Arte, Experimentação, Filosofia

País de dançarinos e de ritmos mancos | por Jérôme Cler

A impossibilidade da leveza, a elegância insensata dos dançarinos – entretanto frequentemente bastante corpulentos -, a alegria como virtude no centro desse mundo de onde todo pathos parecia estar ausente. Potência da repetição: a música pega sempre no seu círculo, nada mais do que um círculo ou uma espiral, e a melodia de dança se fecha sobre si mesma, na vila, e se junta em direção ao seu centro sempre aproximado pelos dançarinos.

Filosofia, Política

Como se pode ser deleuzeano? | por Arnaud Villani

Se eu tivesse que responder em uma frase à questão “Como se pode ser deleuzeano?”, eu responderia sem hesitar: por paixão, porque se trata de um dos únicos filósofos que gosta tanto da vida que ele a deslizou por trás de todas as suas palavras. Como ele, eu amo a vida como conjunto dos processos que se opõem à morte, mas processos que não faltam ao inorgânico. A vida é resistência. E nós somos responsáveis por ela em cada um de nossos gestos.

Arte, Filosofia

Uma felicidade estranha

Composição de relações ao som de uma música de Rodolphe Burger & Olivier Cadiot ("Je nage" / "Eu nado"), com trechos falados de uma aula de Gilles Deleuze: "Espinosa: Imortalidade e Eternidade", de 1981.   Clique aqui para ler a aula de Deleuze em francês. Clique aqui para ler a aula de Deleuze em português.… Continuar lendo Uma felicidade estranha

Experimentação, Filosofia

Gilles Deleuze: um misticismo ateu | por René Schérer

Ora, esse misticismo, ele é possível; o problema é bem colocado, e central – Fourier teria escrito pivotal, ou ocupado um lugar privilegiado – dessa aliança entre o empirismo e o misticismo; entre a ordem dos fatos e o que Kant chamava, no seu opúsculo sobre Os sonhos de um visionário, a perda no transcendente. Obstáculo a contornar, ou melhor, pedra de toque de uma reviravolta paradoxal. Posta assim em evidência, logo à entrada, essa pedra é advertência e signo de reconhecimento. Não entre aqui quem não seja místico.

Filosofia

Tudo é congruente | por Marilena Chauí

Examinando os preceitos da retórica seiscentista, João Adolfo Hansen[i] retoma, seguindo Tesauro, a história da encomenda de uma cabeça de Palas, feita pelos atenienses a dois escultores, Fídias e Alcmena. A escultura deveria ser colocada no topo de uma alta coluna e ser vista de baixo para cima. Quando as obras chegaram, a de Fídias… Continuar lendo Tudo é congruente | por Marilena Chauí

Filosofia

Baruch Espinosa: Carta sobre o Infinito

"Compor a duração com momentos é o mesmo que compor o número apenas pela adição de zeros. (...) O número, a medida e o tempo, por serem auxiliares da imaginação, não podem ser infinitos, pois senão o número não seria mais número, a medida, medida, e o tempo, tempo. Por isso se vê claramente por que muitos, que confundem esses três entes de imaginação com entes reais, porque ignoram a verdadeira natureza das coisas, negam o infinito em ato".

Filosofia

Deleuze de costas e de frente | por Jean-Pierre Faye

Por: Jean-Pierre Faye | Trad.: Rodrigo Lucheta   “Cada combinação frágil é uma potência de vida que se afirma”. É o enigma deleuzeano, aquele do filósofo “sem pulmões” – mas que fôlego... Penso em sua definição, ou antes em seu retrato de Nietzsche: “grand vivant de saúde frágil”. Ele mesmo cita a descrição nietzscheana: “O… Continuar lendo Deleuze de costas e de frente | por Jean-Pierre Faye

Arte, Experimentação, Filosofia

As cartas de Nise da Silveira a Spinoza

CARTA I Meu caro Spinoza, Você é mesmo singular. Através dos séculos continua despertando admirações fervorosas, oposições, leituras diferentes de seus livros, não só no mundo dos filósofos, mas, curiosamente, atraindo pensadores das mais diversas áreas do saber, até despretensiosos leitores que insistem, embora sem formação filosófica (e este é o meu caso), no difícil… Continuar lendo As cartas de Nise da Silveira a Spinoza

Filosofia

Existe uma inteligência do virtual?, por John Rajchman

Por John Rajchman | Trad.: Maria Cristina Franco Ferraz 1. O Virtual... O virtual é um conceito bem antigo. A palavra, que vem de virtus (a força) é ligada a actualis (o ato que a torna efetiva); esse par corresponde à dynamis-energeia, que alguns consideram ser o próprio cerne da filosofia de Aristóteles. No entanto, mais perto… Continuar lendo Existe uma inteligência do virtual?, por John Rajchman

Peter Paul Rubens - Saturne dévorant ses enfants, Madrid, Musée du Prado, 1636.
Arte, Experimentação, Filosofia

Por que é preciso ler a Ética de Spinoza aceleradamente?

Por Jean-Clet Martin | Trad.: Rodrigo Lucheta   Por que é preciso ler a “Ética” de Spinoza aceleradamente? Não podemos ler a Ética com lupa, acentuando o realismo de cada recorte, de cada seção. Isso seria como uma fotografia, aproximada de maneira molecular e por granulações. A Ética é um livro de velocidade. Sua leitura, como… Continuar lendo Por que é preciso ler a Ética de Spinoza aceleradamente?

Arte, Filosofia

Spinoza, poema de Machado de Assis

Spinoza Gosto de ver-te, grave e solitário, Sob o fumo de esquálida candeia, Nas mãos a ferramenta de operário, E na cabeça a coruscante idéia. E enquanto o pensamento delineia Uma filosofia, o pão diário A tua mão a labutar granjeia E achas na independência o teu salário. Soem cá fora agitações e lutas, Sibile… Continuar lendo Spinoza, poema de Machado de Assis

Arte, Filosofia

Baruch Spinoza, poema de Jorge Luis Borges

  BARUCH SPINOZA Ocidente a janela em bruma de ouro A luz evoca. Assíduo, o manuscrito Já prenhe de infinito a hora aguarda. Alguém nesta penumbra a Deus constrói, Um homem Deus engendra. É um judeu De tristes olhos e cítrea pele. O tempo o leva como leva um rio A folha que nas águas… Continuar lendo Baruch Spinoza, poema de Jorge Luis Borges