Aula de 03 de junho de 1980 no Centro Universitário de Vincennes.
Trecho da aula:
“…o segredo da individuação não é a pessoa, pois que a verdadeira individuação é aquela dos acontecimentos. É uma ideia estranha. Vocês me dirão: o que é que se justifica? Demos um salto. Sim, para onde você vai? Isso diz alguma coisa para você? O que é que isso te diz? O que é que os autores ingleses querem dizer? Eles querem dizer que mesmo as pessoas (eles fazem a derivação inversa) são individuadas à maneira de acontecimentos. Simplesmente isso não se vê. Temos tantos maus hábitos, nos tomamos por pessoas, mas não somos pessoas. Somos, à nossa maneira, pequenos acontecimentos. E se somos individuados é à maneira de acontecimentos e não à maneira de pessoas. É curioso. Diríamos: bom, então seria necessário devir acontecimento-pessoa. Não, mas eu faço apelo à ressonância que as coisas…E depois do que vocês disserem a definição de acontecimento vai mudar singularmente. O que é uma batalha? O que é um acontecimento? Um acontecimento. Ah, sim, a morte é o que? É um acontecimento? Qual é a relação do acontecimento com a pessoa? Uma ferida é um acontecimento? Sim, se eu sou ferido, uma ferida é um acontecimento. É a expressão de alguma coisa que me acontece ou me aconteceu. Bom, como é individuada uma ferida? Ela é individuada porque ela acontece em uma pessoa? Ou então eu chamaria de pessoa aquele a quem a ferida acontece? Complicado…vocês talvez se lembrem, aqueles que estavam aqui, passei bastante tempo colocando a seguinte questão: o que é a individuação de uma hora do dia? O que é a individuação de uma estação? O que é esse modo de individuação que, para mim, não passa de maneira nenhuma pelas pessoas? O que é a individuação de um vento? Quando os geógrafos falam do vento…eles justamente dão nomes próprios ao vento. Nosso problema dá outro salto. Vocês compreendem?…”
Espetacular!
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