Arte, Filosofia

Gilles Deleuze: Curso ‘A Imagem-Movimento’ – Aula 2 de 21

Segunda aula do curso ‘A Imagem-Movimento’, curso ministrado por Gilles Deleuze de novembro de 1981 a junho de 1982 na Universidade Paris VIII. Nesta segunda aula, ocorrida em 17/11/1981, o filósofo continua a apresentação das três teses de Henri Bergson (1859 – 1941) sobre o movimento, notadamente a terceira tese: o movimento é um corte móvel da duração – o que coloca Deleuze em amplos desenvolvimentos sobre o Todo bergsoniano, Todo cujos sinônimos são: o Aberto, a duração e a mudança. São esses elementos temporais que permitirão a Deleuze, no transcorrer da aula, deslizar para o cinema levando até ele o todo o aparato bergsoniano recortado precisamente para funcionar no contexto cinematográfico: 1) Sistema fechado de objetos isolados = quadro ou enquadramento. 2) Movimento = Plano. 3) Todo = Tempo ou montagem…

A aula se inicia pela recapitulação de um tema bastante trabalhado na aula anterior: o cinema surge graças à virada científica da modernidade que, rompendo com a ciência e mesmo com a arte antigas – que reconstituíam o movimento a partir de instantes privilegiados (o geocentrismo na ciência, as poses nas artes…). O cinema é fruto da reconstituição do movimento a partir de instantes quaisquer, ou seja, a ciência não tem mais uma “pose”, um lugar privilegiado para os astros celestes, mas acompanha-lhes as orbitas, as trajetórias em instantes quaisquer, em instantes equidistantes no tempo, tal como as películas irão enfileirar os fotogramas dos filmes…

No livro e no curso a ideia mestra é a de que o cinema inventa a possibilidade de uma percepção absolutamente diferente da nossa percepção em suas condições naturais cotidianas, uma vez que esta última nos oferece sempre uma percepção de “mistos”, de misturas (espaço, tempo, movimento, instantes), enquanto que o cinema nos abre a possibilidade da percepção do movimento puro, ou seja, de uma imagem-movimento. “Ter inventado a imagem-movimento é o ato de criação do cinema” (diz Gilles Deleuze já na primeira aula).

As próximas aulas serão publicadas em sequência cronológica neste canal à medida que formos concluindo sua tradução e legendagem. Portando, não deixem de se inscrever no canal para receberem notificação acerca da publicação das próximas aulas.

Enquanto a próxima aula não fica pronta, segue a lista dos cinco filmes que Deleuze cita nesta segunda:

1) Farrapo Humano (EUA, 1945). Dir.: Billy Wilder.

2) A Caixa de Pandora (ALE, 1945). Dir.: G. W. Pabst.

3) Suspeita (EUA, 1941). Dir.: Alfred Hitchcock.

4) Maldone (FRA, 1928). Dir.: Jean Grémillon.

5) Ouro e Maldição (EUA, 1924). Dir: Erich von Stroheim.

Assistam!

Sobre o curso cuja segunda aula apresentamos aqui com legendas em português, diz-nos François Dosse, em sua biografia de Deleuze e Guattari:

“Quando, na manhã de 10 de novembro de 1981, Deleuze inicia sua aula consagrada ao cinema, será que ele tinha realmente a dimensão do canteiro que se abria? Vai lhe dedicar nada menos que três anos letivos, 250 horas de aula e duas obras sobre o cinema – A Imagem-Movimento e A Imagem-Tempo. Esse novo ciclo de estudos se desenvolve imediatamente após a obra comum realizada com Félix Guattari. Pode-se considerar essa investigação fora do corpus clássico da filosofia como um parêntese recreativo? Nada disso. Como é comum, esse avanço no continente cinematográfico está ligado a fatores contingentes e exteriores e, ao mesmo tempo, a uma necessidade interior de sua reflexão filosófica”. – DOSSE, François. Gilles Deleuze & Félix Guattari: Biografia Cruzada. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2010, p. 325. Bons estudos a todos!

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